FATICK, KAOLACK, FADIOUTH E DIARHAO
No início do século XX, além do Cayor, as regiões no sul da então colônia do Senegal que tinham pertencido aos antigos reinos do Sine e Saloum também produziam grandes quantidades de arachides37. Fortier fotografou localidades nas margens do rio Saloum onde o produto era estocado pelas casas comercias europeias. Na mesma ocasião, visitou Fadiouth e Diarhao.
A legenda do postal acima complementa a informação contida na imagem. O fotógrafo procura explicar o fenômeno do delta do Saloum, onde as águas do rio e do mar se misturam.
Foundiougne, nas margens do rio Saloum, foi até 1914, quando foi superada por Kaolack, o porto mais importante da região. Os imensos galpões e as pilhas de amendoim no cais mostram a importância do produto na economia do local.
O transporte entre as regiões produtoras e essas cidades era feito por veleiros de comerciantes africanos.
Navios das grandes casas comerciais francesas, no caso acima um vapor em cuja chaminé podemos ver as iniciais da empresa Maurel et Prom, subiam o Saloum até Kaolack para recolher os arachides.
A legenda do postal acima faz referência à autonomia conquistada pelos habitantes de Fadiouth frente aos “Tiédos”, que eram membros dos exércitos dos reinos do Senegal pré-colonial. Encarregados de recolher impostos, muitas vezes incorriam em pilhagens e confiscos aleatórios de bens das populações.38
A imagem mostra, em meio às habitações dos pescadores, uma igreja. Os missionários cristãos tinham grande dificuldade em conseguir adeptos nas regiões islamizadas e Fadiouth era na época um dos raros locais de implantação católica fora das “Quatro Comunas”.39
Nos postais acima, o cotidiano da aldeia comentado pelo fotógrafo.
Coumba N’Doffène era o rei do Sine à época da passagem de Fortier por Diarhao, por volta de 1904. Hábil negociador, apesar da instalação da administração colonial na região conseguiu manter seu status e privilégios até sua morte em 1923.40
NOTAS
37 Sobre o a região, ver KLEIN, 1968. O autor traça um panorama detalhado do processo de penetração colonial na região, da negociação dos europeus com o Islã e da mudanças econômicas do período.
38 Cf. JOHNSON, G., 1991, p. 28, “Em tempos de paz, os tiédos eram coletores de impostos e estavam eles mesmos isentos de qualquer fiscalização; segundo o costume, eles asseguravam a sua subsistência pilhando e confiscando aleatoriamente os bens dos agricultores livres, que constituíam a maior parte da população, se bem fosse possível a um soberano forte limitar, ocasionalmente, a extensão de suas pilhagens”.
39 Havia uma missão católica estabelecida desde 1850 em Ngazobil, próxima a Fadiouth. Os conflitos com os chefes muçulmanos da região era constante. Sobre as relações entre os missionários, as autoridades coloniais e os chefes locais ver KLEIN, 1968.
40 Cf. KLEIN, 1968, pp 200-204.