A cidadania francesa com direitos eleitorais foi concedida durante o período colonial a habitantes africanos, mestiços e europeus das chamadas “Quatro Comunas” do Senegal – as cidades de Saint-Louis, Gorée, Rufisque e Dakar – que eram os centros mais antigos de presença europeia na região.15 Isso propiciou a emergência de uma atividade política precoce e intensa nesses locais.
A questão da representação dos habitantes das possessões coloniais foi colocada desde a época da Revolução Francesa de1789, porém apenas após a instauração da IIIa. República, em 1870, a situação jurídica das cidades senegalesas foi definitivamente determinada. Um decreto de 1872 criou as comunas de Saint-Louis e Gorée e outro de 1880 a de Rufisque. Em 1887, a comuna de Dakar foi separada de Gorée.
Os governadores da então colônia do Senegal eram nomeados pela metrópole, mas em 1879, por pressão dos comerciantes europeus lá estabelecidos, foi instaurado um Conselho Geral, a ser eleito por voto direto, para deliberar sobre o orçamento local. No mesmo ano, um decreto permitiu aos eleitores senegaleses designar um deputado ao Parlamento da França.
A partir de 1882 os prefeitos das comunas passam a ser eleitos por conselhos municipais cujos membros eram também escolhidos por sufrágio universal direto.
Tinham direito a voto e elegibilidade as pessoas que pagassem os impostos locais e tivessem nascido ou vivessem há mais de cinco anos em uma das quatro comunas. A maioria dos eleitores era composta por africanos. Embora os europeus e mestiços, representantes das grandes casas comerciais de Bordeaux e Marselha, dominassem inicialmente a atividade política nesses locais, no início do século XX a participação africana com pautas próprias já se fazia presente. A força crescente do sufrágio de origem senegalesa culminou em 1914 na eleição de Blaise Diagne, o primeiro deputado negro a representar o Senegal no Parlamento da França.
A intensa atividade econômica nas quatro comunas e o cotidiano de sua população de origens diversas aparecem nos cartões postais publicados por Fortier.
SAINT-LOUIS
Saint-Louis, na embocadura do rio Senegal, era no início do século XX a capital da colônia. Sua população alcançava cerca de 20.000 habitantes, sendo apenas 1.200 europeus e mestiços.16 Cidade mais importante, era também a mais antiga aglomeração europeia na região. Além da ilha onde foi fundada, Saint-Louis espalhou-se pelas duas margens do rio, Sor e Guet-N’dar.
Ficava em Sor a École des Otages (Escola dos Reféns), depois École des fils de chefs, fundada em 1854 pelo Governador Faidherbe. Os filhos jovens de governantes africanos eram forçados a frequentar a Escola, onde recebiam educação francesa.
A imagem mostra uma edificação imponente, construída com materiais europeus. Uma figura masculina, talvez um aluno da Escola, está sentado junto ao muro. Um grupo de mulheres com suas cabaças na cabeça passa na rua. Na lateral esquerda, uma lâmpada elétrica. A eletricidade foi introduzida em Saint-Louis em 1887, antes do que em muitas localidades da França.17
Era em Sor também, na margem esquerda do rio Senegal, que chegava a ferrovia que garantia a ligação com Dakar, ao sul. Essa margem foi unida à ilha por uma ponte metálica com uma das partes pivotante para permitir a passagem de vapores, inaugurada em 1897.
A ponte metálica aparece ao fundo da fotografia acima, que surpreende pela profundidade de campo alcançada.
O rio Senegal era a via de penetração para o interior, onde era feito o comércio, principalmente da goma arábica, que durante muitos anos garantiu a prosperidade de Saint-Louis. Na época das cheias do rio um pequeno vapor, que nessa imagem vemos ancorado ao cais, chegava até Kayes, na então colônia vizinha do Haut-Sénégal et Niger. O texto no cartão postal, que anuncia o nascimento de um menino, mostra o caráter telegráfico das mensagens.
Na fotografia vemos à esquerda a entrada da Prefeitura da cidade. Um europeu com seu capacete colonial branco, um africano com trajes ocidentais e outros com a vestimenta dos muçulmanos revelam a diversidade da população da cidade.
Nessas duas imagens vemos as construções típicas de Saint-Louis, inspiradas nas casas do Sul da França, de onde provinham muitos comerciantes estabelecidos na cidade. No nível da rua ficava o armazém e a loja, no andar superior avarandado viviam as famílias. No postal inferior um grupo participa de uma comemoração.
Guet N’Dar, uma língua de terra formada na margem direita da foz do rio Senegal, liga Saint-Louis ao território da Mauritânia. O mercado de Guet N’Dar abastecia a cidade e a movimentada avenida, por onde trafegavam carroças e camelos, era a via de entrada para os comerciantes que vinham das regiões desérticas ao norte.
A pesca era a atividade mais importante de Guet N’Dar e o primeiro postal mostra redes penduradas junto a uma piroga enquanto o segundo é um registro da praia do litoral atlântico.
RUFISQUE
Rufisque, antiga possessão portuguesa,18 foi anexada pelos franceses em 1859. Devido a sua localização, próxima às regiões produtoras de arachides (amendoim), comerciantes europeus e mestiços estabelecidos em Gorée decidiram, a partir da década seguinte, adotara cidade como sede de seus estabelecimentos. Casas e amplos armazéns foram construídos para receber a mercadoria, que ocupava grandes espaços da cidade. No início do século XX era o principal centro comercial do Sul do Senegal. Sua população, de cerca de 10.000 habitantes, contava com 10% de europeus, a maior proporção dentre as quatro comunas.
A estrada de ferro que ligava Saint-Louis a Dakar fazia escala em Rufisque, onde também havia um ancoradouro. Esse porto passou a ser uma alternativa para o embarque dos arachides. Os navios, no entanto, não podiam aportar e a mercadoria era levada até eles por embarcações locais. O píer, com 200 metros de extensão, era servido por trilhos estreitos, tipo Decauville, por onde chegavam as sacas de amendoim vindas dos armazéns. A iluminação elétrica foi implantada em 1897.
Os arachides, em imensas pilhas ou ensacados, dominavam a paisagem da cidade de Rufisque durante a época da colheita e do embarque, entre os meses de novembro a maio. O produto era industrializado na França, servindo de base para a fabricação de sabão e margarina, principalmente. 19
Um antigo forte, construído pelo governador Faidherbe na praia de Rufisque, foi transformado em farol. A atividade da pesca, praticada pela população lébou, continuava importante nessa época. Nos postais acima vemos pirogas na praia e pescadores do vilarejo de Guendel consertando as velas de seus barcos. Uma imensa rede cobre o telhado de uma cabana, que aparenta ser uma oficina. A luminosidade intensa que incide sobre o local era provavelmente um dos fatores que permitia esse tipo de registro, muito distinto das “poses” em que os modelos ficavam estáticos.
GORÉE
No postal abaixo, que mostra a praça de Gorée, podemos ver crianças em movimento. Suas roupas tremulam ao vento e o menino à direita salta mantendo um pé no ar. A missiva comenta a situação geográfica da cidade.
Gorée, uma pequena ilha próxima à extremidade da península do Cabo Verde, no ponto mais ocidental da costa africana, foi ocupada pelos holandeses no início do século XVII. Durante muitos anos serviu de entreposto para o tráfico de pessoas escravizadas. No início do século XIX tornou-se possessão francesa, após ser disputada por diversas nações europeias atraídas por sua posição estratégica. Gorée no início do século XX, quando fotografada por Fortier, já deixara de ser um centro comercial importante. A ilha não comportava novas construções. Seu abastecimento de água e víveres vinha do continente, o que era uma importante limitação a seu crescimento.
O registro acima, feito do norte da ilha, mostra o píer do porto de Gorée na área central da fotografia. As casas diferem das de Saint-Louis e se aglomeram no pouco espaço disponível.
Um pequeno vapor, o “Nautile”, além das embarcações dos pescadores, garantia desde 1899 a ligação com Dakar.20
DAKAR
Dakar tem uma história diferente das outras três comunas, que eram importantes entrepostos comerciais. A cidade colonial surgiu por decisão de administradores franceses. Vários fatores concorreram para que os europeus decidissem se instalar no continente à frente da ilha de Gorée. Havia o intuito de controlar as fontes de abastecimento de água e víveres sem depender da boa vontade dos habitantes lébou do local. Outro motivo eram as enseadas do Cabo Verde, que formavam portos naturais, protegidos dos ventos e melhores do que o ancoradouro de Gorée. Terrenos foram adquiridos, um forte militar foi construído e um desenho do plano da futura cidade colonial de Dakar foi feito pelo engenheiro Pinet-Laprade.
Em 1857 os franceses ocuparam a ponta da península e iniciaram nos anos seguintes as obras de um dique para aumentar a área do porto e dos pontilhões para receber navios21. A cidade colonial foi crescendo sobre uma antiga aldeia de pescadores. Pouco a pouco, os franceses compraram áreas dos antigos habitantes e construíam as instalações da administração local e as moradias para os funcionários. Dakar era na época um local isolado das regiões do interior e muitas casas de comércio europeias que deixaram Gorée preferiram se instalar em Rufisque, mais próxima, como vimos, das áreas de onde chegava o produto de exportação mais rentável, o arachide.
O porto começou a ter maior importância em 1865, quando os transatlânticos da então companhia das Messageries Impériales, que em 1871 passou a se chamar Messageries Maritimes, passaram a fazer escala em Dakar e não mais em São Vicente, nas ilhas do Cabo Verde. A linha que ligava a Europa à América do Sul se abastecia em Dakar de água, carvão e víveres. O crescimento da cidade, no entanto, continuou lento até o final do século XIX.
Em 1898 o governo metropolitano decidiu tornar Dakar, em substituição a Gorée, o porto de apoio à frota militar francesa no Atlântico Sul. A partir de então a cidade começou a se expandir. A empresa Hersent, especializada na construção de fundações submarinas e que recentemente construíra o porto de Bizerte na Tunísia, foi contratada para realizar as obras do porto militar. Desde 1885 a cidade Dakar não estava mais isolada do interior do Senegal, já que nesse ano a ferrovia que a ligava a Saint-Louis havia sido inaugurada22. Embora fosse ainda muito menor do que Saint-Louis, em 1902 o Governador Geral Ernest Roume decidiu transferir a sede do Governo Geral da África Ocidental Francesa para Dakar. Obras de saneamento e de melhoria do porto de comércio foram então iniciadas na cidade.
A população de Dakar em 1900 era de 8.737 habitantes. Em 1905 o número havia ascendido a 24.717, sendo 1.500 europeus. Trabalhadores do interior do Senegal e de outros países afluíram à cidade atraídos pelos salários pagos nos grandes projetos em curso.23
Nos primeiros anos do século XX Fortier registrou esse momento da transformação de Dakar.
Na primeira imagem vemos um transatlântico das Messageries Maritimes, o “Chili”, num registro da época em que o transporte dos passageiros, bagagens e mercadorias do navio para o porto ainda era feito por veleiros. Na segunda, uma fotografia posterior já mostra pequenos vapores, de propriedade de agências de europeus, se dirigindo ao imenso navio no ancoradouro. Antes das obras realizadas a partir de 1904 no porto de comércio, apenas navios de menor calagem aportavam nos pontilhões.
O carvão que abastecia os vapores em trânsito e as locomotivas da ferrovia Dakar-Saint-Louis era importado da Inglaterra, e dois depósitos, um do governo local e outro da companhia Messageries Maritimes foram construídos no cais para armazená-lo. Além do maior pontilhão havia um menor, onde veleiros vindos de outros locais da costa senegalesa ancoravam trazendo mercadorias ensacadas (provavelmente arachides) e levando produtos importados, como material de construção.
Essa fotografia de um veleiro tem ao fundo o perfil da cidade de Dakar vista do ancoradouro.
A ilha de Gorée aparece ao longe à esquerda da imagem acima, que no primeiro plano mostra a enseada que bordejava o Jardim Público. A praia, que foi a seguir soterrada para dar lugar às instalações do novo porto militar, era usada por pescadores para ancorar as pirogas.
Uma outra fotografia mostra pescadores arrastando uma rede levados pelo ritmo da percussão feita por um grupo de homens enfileirados na areia da praia.
Maquinário europeu foi trazido a Dakar para uso nas obras do novo porto.
A cena registrada no postal acima se passou na antiga estação ferroviária de Dakar, que ficava junto aos pontilhões do porto. Na imagem podemos identificar Tirailleurs sénégalais24 embarcando nos vagões.
Junto à entrada da construção que abrigava, à época, a Direção do Porto Militar ficava um reservatório de água que servia ao abastecimento dos navios e também era usado pela população da cidade. A água provinha dos lençóis de Hann, situados 8 km a leste, e chegava a Dakar por meio de condutores, sendo depois armazenada e distribuída em fontes públicas. Na imagem acima vemos vários barris usados para transportar água e pessoas em volta da bica. Nas calçadas das ruas que davam acesso à cidade há pequenas árvores protegidas por grades.
Nesses dois cartões postais, a mesma bica foi fotografada mais de perto registrando a atividade das mulheres que enchem seus recipientes e com a vista dos depósitos de carvão do porto ao fundo.
Para aqueles que chegavam a Dakar pelo porto ou pela antiga estação ferroviária o acesso à cidade era o então Boulevard Pinet-Laprade,25 onde havia um restaurante e um hotel. Esse local foi registrado diversas vezes por Fortier ao longo de sua carreira.
O mercado funcionava próximo da entrada da cidade, no mesmo local onde posteriormente foi erigida a atual construção que abriga o Kermel. Na imagem acima um europeu circula entre as mulheres africanas, vendedoras e clientes do mercado.
O centro da cidade era a então chamada Place Protet, hoje Place de l’Indépendance. O Boulevard National,26 que margeava a praça, foi aos poucos sendo estendido na direção oeste. Na última imagem podemos notar as árvores menores, plantadas a menos tempo do que as da praça.
A Catedral mais antiga de Dakar, erigida no final da década de 1870, ficava na Place Protet. No início do século XX havia na cidade uma grande comunidade de católicos africanos e mestiços. A igreja não tinha fundações adequadas e em 1907 precisou ser demolida.27
Um estabelecimento de ensino europeu criado por missionários religiosos para escolarizar meninos africanos e franceses também ficava na Place Protet. Em 1904, seguindo as leis metropolitanas, as escolas públicas de Dakar foram laicizadas. Isso fez com que mais crianças da comunidade muçulmana, que era majoritária na cidade, passassem a frequenta-las.28
A primeira mesquita de Dakar construída com materiais europeus data da década de 1880. Localizava-se na esquina da rua Blanchot (atualmente rua Mousse Diop) com a rua Carnot, local à época afastado da área central da cidade colonial.29 Na imagem acima vemos, ao lado da mesquita, uma construção coberta de palha que servia de local de encontro. Espaços semelhantes a esse são comuns na África do Oeste e servem para o exercício do diálogo entre os membros da comunidade.
Esse outro postal mostra os entornos da parte posterior da mesquita. À direita, na fonte do local, vemos uma criança que segura uma cabaça. À esquerda, as novas construções de madeira ou de tijolos que paulatinamente substituíam as casas de palha dos moradores de Dakar.
A construção de cimento caiado que aparece na imagem acima, conhecida à época como Petite Mosquée, era o túmulo de um sábio muçulmano e local de preces. Localizava-se a oeste do então centro da cidade, no trajeto da extensão do Boulevard National.30
As datas mais importantes do calendário islâmico eram celebradas em espaços abertos. “Tabaski” é o nome atribuído na África do Oeste à festa do sacrifício (Aïd al-Adha ou Aïd al-Kabïr em árabe), que na tradição muçulmana lembra o episódio da submissão de Ibrahim (Abraão) a Allah.
Apesar de todas as vantagens que Dakar apresentava enquanto porto, a salubridade da cidade era uma preocupação constante. A febre amarela era endêmica no local, e graves epidemias assolavam a população de tempos em tempos. Em 1900, a doença matou muitos franceses que trabalhavam na construção do porto militar.31 A questão sanitária era na época tema em muitas cidades do mundo. Em 1903, o Governador-Geral Ernest Roume contratou um empréstimo junto ao governo da metrópole para executar obras de saneamento da cidade e de melhorias do porto de comércio.32
Como dissemos, a cidade colonial, construída com tijolos e cimento (en dur), foi crescendo mesclada aos vilarejos originais do local. Alguns proprietários africanos começaram a montar casas com tábuas importadas da França, que tinham um custo menor. Nas imagens acima, a Rue de Grammont (atual Avenue K. Bourgui), onde podemos ver uma outra construção de teto de palha semelhante à da entrada da Mesquita, e a Rue des Essarts, ainda com um poste dos tempos anteriores à introdução da energia elétrica.
As imensas obras dos portos militar e de comércio e de urbanização empreendidas em Dakar provocaram um intenso crescimento populacional na cidade. Aos antigos habitantes lébou juntou-se uma população flutuante vinda de outros países africanos e do oriente.
Homens jovens, sem relações sociais e familiares na cidade, viviam em condições precárias, pois a especulação imobiliária tornava os aluguéis caros. Muitos deles aglomeravam-se em pequenos cômodos.33
As leis urbanas de Dakar foram aos poucos exigindo que as casas fossem feitas com tijolos e cimento, pois eram consideradas menos sujeitas às epidemias. Os africanos passaram a construir moradias baratas para esses trabalhadores temporários, o que lhes garantia uma renda alta sobre o investimento. Muitos funcionários franceses menos graduados também moravam nessas casas, como as que vemos na imagem acima.34
Os projetos de obras de saneamento que foram empreendidos durante o governo de Ernest Roume consideravam insalubres algumas áreas da cidade pois eram locais onde epidemias haviam se iniciado. Essas áreas eram habitadas pelos pescadores lébou antes da chegada dos franceses. O Jardin Public, que vemos nessa imagem, ficava logo atrás do local onde estava sendo construído o porto militar. A ravina foi soterrada e sobre os jardins novos edifícios coloniais foram erigidos, transformando a paisagem urbana de Dakar.
A segregação das populações africanas e europeias nas cidades coloniais foi um processo paulatino. As políticas sanitárias eram em geral a justificativa para essas medidas que prejudicavam os habitantes autóctones.35
NOTAS
15 Ver JOHNSON, G., Naissance du Sénégal contemporain. Aux origines de la vie politique moderne (1900-1920), Paris, Karthala, 1991; ZUCARELLI, F., “La vie politique dans les quatre communes du Sénégal de 1872 a 1914” in Ethiopiques, vol. 12, 1977 e COQUERY-VIDROVITCH, C., “Nationalité et citoyenneté en Afrique occidentale française: originaires et citoyens dans le Sénégal colonial” in Journal of African History, 42 (2001)pp. 285-305.
16 Cf. VILLARD, A., Histoire du Sénégal, Dakar, Ars Africae, 1943, p. 163
17 Ver ARDURAT, C., “L’élétrification du Sénégal de la fin du XIXe siècle à la Seconde Guerre mondiale” in Outre-mers, tome 89, n. 334-335, 1er semestre 2002, pp 439-457. “Saint-Louis foi a primeira cidade a ser iluminada (1887), pelo engenheiro civil Hippolyte Vaubourg, que era então o concessionário da iluminação da cidade. Em 1888 ele instala a primeira central elétrica do país.” (p. 441)
18 O nome Rufisque é de origem portuguesa e deriva de “Rio Fresco” ou “Refresco”, pois os navios lá se abasteciam de água e gêneros frescos. Ver TEIXEIRA DA MOTA, A., Topónimos de origem portuguesa na costa ocidental de África desde o Cabo Bojador ao Cabo de Santa Catarina, Bissau, Publicações do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa n. 14, 1950, pp. 97-98 e MAUNY, R. “Notes d’Histoire sur Rufisque d’après quelques textes anciens” in Notes Africaines, n. 46, abril 1950, pp.47-49.
19 Yves Person explica: “O amendoim era exportado com a casca, pois o governo francês colocara uma taxa proibitiva na importação do óleo para a França, atrasando portanto por meio século o nascimento da indústria local.” Ver PERSON, Y., “Western Africa, 1870-1886” p. 211, in (eds.) OLIVER, R. E SANDERSON, G. N., The Cambridge History of Africa, vol. 6, from 1870 to 1905. Cambridge University Press, 1985. KLEIN, 1968, p. 120, diz: “A peculiaridade do comércio era a de que o amendoim era exportado na casca e prensado na França, embora apenas o óleo (que correspondia a um pouco mais de um terço do peso) fosse desejado. Isso principalmente devido aos interesses dos produtores de azeite de oliva no Sul da França que tiveram êxito em pressionar o governo para manter uma alta taxa nas importações de óleos. Como resultado não havia indústria de prensagem local e o Senegal tinha que importar óleo de semente de algodão para cozinhar. Diversos esforços foram feitos para prensar óleo de amendoim no Senegal para os mercados locais, mas os sucessos foram raros até a Primeira Guerra Mundial. Executar processos de transformação simples na França e não nas colônias era uma das mais surpreendentes características da economia colonial.”
20 Cf. JOJOT, C., 1907, p. 50.
21 A mão de obra para a construção do dique era composta por disciplinaires (militares punidos por indisciplina). As rochas basálticas do Cabo Manuel foram usadas nas fundações. Ver JOJOT, 1907, pp. 10 e 26.
22 A inauguração da estrada de ferro, obra da Societé de Construction des Batignolles financiada pelo governo metropolitano, marcou a dominação francesa sobre o reino do Cayor e permitiu o escoamento da produção dos arachides. Sobre problemas técnicos da construção e críticas aos custos da ferrovia, ver CANU, A.-H., La Pétaudière Coloniale, Paris, Éd. Chamuel, 1894, pp. 202-228.
23 Ver RIBOT, G. E LAFON, R., Dakar, ses origines, son avenir, Bordeaux, Imprimerie Delmas, 1908, p. 37 e JOJOT, 1907, p. 30.
24 Os chamados Tirailleurs sénégalais eram membros de unidades de infantaria do exército colonial. O primeiro regimento foi formado em 1857 pelo governador Faidherbe. Essas tropas, constituídas por africanos recrutados em todas as colônias francesas da África do Oeste, foram utilizadas inicialmente na conquista dos territórios do interior. Mais tarde combateram no Marrocos e na I Guerra Mundial. Ver ECHENBERG, Myron, Colonial Conscripts – The Tirailleurs Sénégalais in French West Africa, 1857-1960, Portsmouth, Heinemann e London, James Currey, 1991.
25 Atualmente Boulevard El Hadj Djily Mbaye.
26 Hoje Avenidas Hassan II, G. Pompidou e Peytavin.
27 Sobre a construção da primeira Catedral ver CANTONE, C., Making and Remaking Mosques in Senegal, Leiden e Boston, Brill, 2012, p. 136-137. Para o problema das fundações da antiga Catedral ver JOJOT, 1907, p. 10.
28 Cf. ROUME, E., Discours à la Séance d’ouverture de la Session du Conseil du Gouvernement, Saint-Louis, Imprimerie du Gouvernement, 1904, p. 18: “Por toda a parte o ensino laico, com um caráter claramente profissional, substituiu o ensino congregacionista; essa reforma importante e necessária foi realizada sem dificuldades e não tardará, tenho a firme confiança, a produzir os mais felizes resultados. Nossas populações africanas, contrariamente a certos preconceitos, são ávidas de instrução; assim que é aberta uma escola francesa laica, ela recebe logo mais alunos do que poderia normalmente aceitar, porque o desejo deveras intenso de instrução que sentem as populações não é mais contrabalançado pelo receio do proselitismo religioso que elas temem, principalmente os muçulmanos”.
29 Sobre a construção da Mesquita da rua Blanchot e seu estilo arquitetônico ver CANTONE, 2012, p. 136-147.
30 “Duas sepulturas de sábios muçulmanos, uma na Avenida Nacional e outra na parte alta da rua Vincens, serviam também de ponto de encontro para a oração (Diaka)”. JOJOT, 1907, p. 39.
31 Cf. JOJOT, 1907, p. 59. “… em 1900 a febre amarela reapareceu em Dakar. E contrariamente a todos os precedentes, não se pôde acusar uma importação estrangeira. (…) O primeiro caso atingiu em 16 de abril um empregado da empresa Hersent e os seguintes se produziram principalmente na parte baixa da rua Vincens, perto do Jardim Público.”
32 Na época, havia na França uma grande resistência a investimentos governamentais nas colônias. Assim, o empréstimo foi a forma encontrada por Roume para executar as obras que via como necessárias para a cidade, que passara a ser a sede da federação das colônias da então África Ocidental Francesa.
33 Cf. RIBOT, G. E LAFON, R., 1908, p. 43-44. “A mortalidade entre os africanos atinge principalmente os nômades, os “dojhendem” (do wolof: dojh’, andar, endem, ir-se), que são atraídos pela possibilidade de ganho numa cidade onde são constituídos grandes capitais por causa da evolução comercial e das grandes obras. A população nativa de Dakar é composta por Lébous. No meio dela vivem sem nenhuma precaução todos os nômades, todos os trabalhadores, todos os operários. Essa gente se aglomera em casas estreitas e pratica durante o dia um trabalho em geral penoso (…). Depois de ter economizado os recursos que utilizarão para comprar gado eles retornam à aldeia onde deixaram a família. Em seguida voltam a Dakar para ganhar mais dinheiro. Muitos se fatigam e morrem”.
34 Sobre o mercado imobiliário de Dakar à época ver RIBOT, G. E LAFON, R., 1908, p. 81-82. Diz o autor: “Em cinco anos, de 1903 a 1908, 440 imóveis (88 por ano) foram construídos por particulares europeus ou africanos. Os europeus edificaram 150 casas com cerca de 800 quartos. Os africanos construíram 285 casas de tijolos com cerca de 1.400 quartos. Muitos trabalhadores e os pequenos funcionários, que não conseguem arcar com os aluguéis dos europeus, se alojam nos quartos dos africanos (…) Os aluguéis para africanos dão bastante retorno, ao menos quatro ou seis vezes mais que os para europeus, que dão assim mesmo ao menos 10% de renda”.
35 Cf. JOJOT, 1907, p. 60 – “O Decreto de 14 de abril de 1904 e as decisões de 1903 e 1905 foram inspiradas pela lembrança dessas epidemias de febre amarela. Elas certamente contribuíram muito para o saneamento de Dakar por meio do aterro da ravina do Jardim Público, a destruição sistemática das casas insalubres, o deslocamento dos africanos para a parte oeste da cidade, etc.” Para uma análise dos processos de segregação em outros locais da África do Oeste ver GOERG, O., Pouvoir colonial, municipalités et espaces urbains, Conakry – Freetown des années 1880 à 1914, vol.2, Urbanisme et hygiénisme, Paris,L’Harmattan, 1997.